O Tribunal do Juri da 1ª Vara Criminal de Três Lagoas, condenou Emileide Magalhães, 31 anos, acusada de matar a filha, Gabrielly Magalhães de Souza, de 10 anos, a 39 anos, 8 meses e 4 dias de prisão em regime fechado pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver, comunicação falsa de crime e corrupção de menores. A sentença é assinada pelo juiz Rodrigo Pedrini Marcos, que definiu a pena em regime inicial fechado, não podendo a ré recorrer em liberdade. Clique e assista a sentença.
O crime, que aconteceu no dia 21 de março, em Brasilândia e chocou o município com pouco mais de 11 mil habitantes. Segundo a investigação policial, a criança foi morta porque contou para a mãe sobre o abuso sexual que sofria, por parte do padrasto, André Luiz Ferreira Piauí. O irmão da vítima, de 13 anos à época, ajudou a mãe no crime e chegou a ser apreendido. À polícia, ele contou que a vítima pedia para não ser morta de dentro do buraco.
A ré, presa no Estabelecimento Penal Feminino Carlos Alberto Jonas Giordano de Corumbá, participou do julgamento por videoconferência. Questionada pelo juiz Rodrigo Pedrini Marcos, se queria falar sobre o caso: respondeu que sim, mas iria responder apenas o que se lembrava. “Vou contar as partes que me recordo”, disse.
Segundo ela, no dia do crime havia “bebido muito e usado muita cocaína”. “Eu me recordo descendo do carro junto de Gabrielly, atravessado a cerca e passado o fio no pescoço dela. Ela acabou desfalecendo e caindo no buraco fundo, por acidente, achei que estava morta. Questionada se o filho a ajudou, disse que no momento em que enterrava a menina, o adolescente saiu correndo, chorando. “Comecei a gritá-lo para me ajudar. Joguei pedaço de terra no buraco”.
Emileide afirmou ainda que, acidentalmente, também caiu no buraco e escorou na filha para sair, situação que fez a criança ir mais para baixo. “Ela afundou no buraco, de cabeça para baixo”. Indagada pelo juiz porque não tirou a filha do buraco, já que havia sido por acidente, ela respondeu : “Não sei dizer. Estava fora de si. Não estava acreditando, não sabia o que eu fazia”. Clique e assista o depoimento da mãe no julgamento.
“Mãe eu te amo”
Durante todo o depoimento, a cabeleireira não demonstrou arrependimento, apenas chorou quando o promotor leu uma carta, apreendida pela polícia à época, na qual Gabrielly havia escrito pedindo desculpa por uma bagunça que tinha feito na companhia de um dos irmãos.
Na carta, escrita à mão, com desenhos de coração, com olhinhos e sorrisinhos, segundo o promotor, a criança escreveu: “Mãe eu te amo. Mãe, obrigada por você existir. Você é a pessoa mais linda e inteligente e a mãe mais legal de toda a minha vida e do mundo inteiro. Eu te amo do fundo do meu coração. Mãe, a senhora é a pessoa mais querida da minha vida. A senhora fala, fala, fala, mas eu não dou ouvidos pra você. Eu vou tentar te obedecer. Eu nunca vou te esquecer. Você tenha muitos anos pra viver”.
O padrasto, André Luiz, acusado de estuprar a criança foi condenado a 20 anos de prisão pelo crime e está preso. No julgamento, Emileide revelou trocar carta com ele de dentro da cadeia. Ainda faltam ser ouvidos o promotor e a defesa, realizada pela defensoria pública. O resultado do julgamento será divulgado no fim da tarde.
Caso
A polícia soube do caso pela própria mãe. Depois de ir três vezes ao local do crime para constatar se a filha estava morta, Emileide procurou a delegacia de Polícia Civil e disse que a menina havia desaparecido após ter sido deixada por ela em uma praça com o irmão. Horas depois, ligou para a Polícia Militar e contou que havia matado a criança e queria se entregar.
Conforme a Polícia Civil, a causa da morte foi asfixia mecânica por compressão do tórax, compatível com o relato do adolescente. O garoto revelou ainda que a mãe ficou enfurecida porque a irmã havia dito que estava sendo abusada sexualmente pelo padrasto e prometeu matá-la caso continuasse falando sobre o assunto.
Em seguida, ela chamou ambos para sair de carro e parou em uma estrada fora da cidade, onde iniciou as agressões e matou a filha. A Polícia Civil identificou uma testemunha que relatou que a menina havia mencionado, no final de 2019, ter sido vítima de abuso por parte do padrasto e que não poderia revelar aos professores ou para a polícia por medo de apanhar da mãe.(Com informações Campo Grande News e cenário MS.)